segunda-feira, 7 de julho de 2014

Hoje conversei com um amigo sobre essa minha fase estranha. Achei interessantíssima a observação dele: isso seria resultado de ler muito, esse pessoal que eu leio era tão genial que a vida real não é mais o bastante. Verdade, lei compulsivamente porque as pessoas e o mundo não têm muita graça pra mim, eles não me surpreendem e nem me emocionam mais. Um dos poucos prazeres que me restam é ler esses autores europeus e Machado de Assis. Eu disse a ele que o admirava e gostava de sua companhia, mas preferiria estar naquele momento sozinho. Desde criança sinto uma necessidade de me isolar um pouco, acho que todos tem essa vontade de vez em quando, mas minha necessidade sempre foi maior que a das pessoas ao redor. Percebi que nesse ano minha vontade de me isolar das pessoas está mais frequente e meus isolamentos estão durando mais. Ser obrigado a travar uma conversa com qualquer pessoa por convenção social (pra parecer simpático) tem me irritado bastante. Ainda acho que conversar com as outras pessoas me traz benefícios, como a conversa de hoje, mas eu prefiro conversar comigo mesmo. Sabe, as horas que eu passo lendo reflexões geniais e boas narrações são melhores que as horas que eu passo vivendo a vida. Apesar do prazer que me causa, acho que isso não deve ser lá muito saudável psicologicamente.
Quando estou sozinho, eu vejo o mundo pelo meus próprios olhos, eu sou eu de verdade. Quando estou inserido em um grupo, eu vejo o mundo pelos olhos de outra pessoa, eu sou aquilo que os outros dizem que sou. Acho que é justamente disso que eu estou cansado: de viver pela percepção dos outros. No entanto, ser sozinho pode ser tão cansativo quanto. Quando me isolo, eu vejo o que quero ver, eu tenho a liberdade de criar o mundo sem a limitação do olhar dos outros. Eu acho que sou o que sou, eu tenho a liberdade de criar uma imagem sobre mim mesmo, sem a limitação do que os outros me percebem. Isso sem dúvidas causa discrepâncias entre a minha realidade e a realidade das outras milhões de pessoas. Quando eu era criança, ficava tão imerso no mundo criado pela minha percepção que não compreendia o ponto de vista diferente de todo mundo. Na adolescência comecei a me surpreender quando me diziam algo que destoava da minha percepção. Ao ver que todos diziam a mesma coisa e só eu via aquilo de uma maneira diferente, eu percebi que o meu mundo era diferente, que eu precisava ver as coisas como todo mundo via. Então me lancei numa jornada de autoconhecimento me entregando ao que os outros diziam sobre o mundo, logo absorvi o senso comum de uma forma geral, posso dizer que foi um dos piores períodos da minha vida psicologicamente falando. Comecei a sentir que algo estava errado comigo e, quanto mais pretendia me aproximar das pessoas, mais me sentia deslocado e diferente. Acontece que aos dezoito anos comecei a querer pensar por mim mesmo, ter senso crítico e não acreditar cegamente no senso comum, aí me senti um pouco mais realizado. Agora tomei plena consciência disso tudo e, de certa forma, minha crise provém disso. Refletindo, percebi que nunca entendi as pessoas como achava, pelo menos não sentimentalmente, mas objetivamente. Todas as minhas análises e previsões sobre as pessoas se baseiam no campo objetivo (se isso aconteceu com ele, ele se sente dessa maneira), mas percebo que nunca tive empatia verdadeira, pois entendo que não sei o que as pessoas em geral sentem, simplesmente pelo motivo que não percebo as emoções e os eventos da vida como os outros. Talvez se você for um psicólogo, possa me esclarecer se eu tenho algum tipo de síndrome ou patologia, acho que isso tenha uma explicação científica. O fato é que, quanto eu tomo consciência de que não sou como os outros, menos eu quero viver com os outros. Melhor dizendo, estar com os outros não me satisfaz emocionalmente. Acho que ler romances realistas, modernistas ou existencialistas me satisfazem emocionalmente por que há certa semelhança entre esses livros e minha visão de mundo. Sem falar que ler, é escapar da realidade, é estar imerso em outro plano.
Eu sei que todos tem uma visão diferente das coisas, mas parece haver alguns aspectos que são mais uniformes. Todavia para mim não o é. Mas vida é uma sucessão de dias que levamos com a barriga, no geral eu consigo viver com as pessoas, apenas o convívio com elas não me causa a satisfação que talvez fosse saudável sentir. Mas é impossível ignorar a queda do meu humor. Hoje caminhei bem mais devagar, não obstante é de meu costume dar passos largos. Especialmente de manhã, ao desembarcar do metrô, andando vagarosamente, um pouco sem vontade de caminhar, projetei meus passos em direção ao escritório e contemplei aquele mar de pessoas andando contra a minha direção naquele caos comum da Rio Branco. Por um instante comecei a sentir como se flutuasse, era como se o ar se tornasse em água, ou melhor, as pessoas se tornassem em água. Tive a impressão de ver o topo de suas cabeças na altura da minha cintura, de modo como se eu estivesse num barco, ou me tornasse um barco. Estava flutuando sobre a cabeça das pessoas. A corrente estava contra mim e eu dificultosamente avançava contra elas. Então a voz do dublador do Tobey Maguire sussurrava no meu ouvido: "somos barcos contra a correnteza". (evidentemente no mesmo tom utilizado por ele em O Grande Gatsby) Quando cheguei no elevador pensei: talvez minha vida agora seja apenas viver um dia após o outro, pedindo a Deus a bênção de que cada dia passe mais rápido que o outro.

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