terça-feira, 17 de junho de 2014

Ontem eu descobri algo que me deixou paralisado por alguns minutos. Lendo uma biografia do Machado de Assis, descobri que ele escreveu os primeiros capítulos de Brás Cubas quando estava severamente doente e de cama. Ele ditou os primeiros capítulos para a Carolina, sua esposa. A cena da Virgília velando o corpo moribundo do Brás antes de morrer, ganhou um novo significado. Imagina que louco, você quase morrendo e ditando pra sua esposa: "ao primeiro verme...", ou então ditando a cena da Virgília se despedindo do Brás. Imagina o que a Carolina deve ter sentido ou pensado. Imagine ditar, doente, o capítulo da alucinação. Eu sempre quis conhecer o Machado, perguntar algumas coisas pra ele. Mas agora a esposa dele me intriga tanto quanto. Lendo a vida dele, é difícil de acreditar que ele foi um ser humano como qualquer outro. Lendo seus livros, já é difícil de acreditar.
Eu, desavisado, achava que Contos Fluminenses já era da fase realista. Descobri também que é da fase romântica. Como assim aqueles contos são românticos? São realistas!
Enfim, já está chato eu falar de Machado de Assis em todas as publicações deste  blog. Acho que posso falar de outro escritor que admiro: Sartre. Eu já tive a Náusea de Roquetin. Eu li o livro no ano passado, simplesmente por ser um clássico aclamado, achei muito bom, mas não me dizia respeito.
Foi no carnaval deste ano, eu tive a Náusea. Cara, a sensação é muito semelhante à náusea. Porém é uma sensação que não fica só no estômago, mas no corpo todo. Na verdade, parece que até o ambiente ao redor está tendo uma náusea. Fiquei olhando a parede por mais de 15 minutos, para mim pareceu um dia inteiro. Aquilo parecia uma parede, mas não era uma parede. Estava ali, mas poderia não estar. se eu me levantasse da cama e tocasse nela, talvez não sentiria nada. Era de manhã, olhei pra janela e não vi a paisagem de costume, vi uma confusão de luzes de diferentes cores, escutei um pássaro, mas parecia um som que não vinha do pássaro, parecia que vinha de dentro do quarto, mas soava lá fora. Abaixei o olhar em direção ao meu tórax e ao meu braço. Parecia apenas um monte de massa, não identifiquei como sendo meu, como seu meu corpo, parecia algo alheio a mim. Me movimentei na cama de modo a me olhar para o espelho, vi um borrão de fumaça, mas não vi minha imagem refletida. Estava sentindo algo estranho, era uma vontade de vomitar sem ter vontade de vomitar. A parede em frente à minha cama também parecia querer vomitar. Aí eu pensei: estou aqui? O que é estar aqui? Ao mesmo tempo que parecia um sonho terrível no qual a gente não consegue acordar, eu tinha consciência de que era real, mas não tinha certeza plena se era real.
Eu simplesmente acordei assim, sem razão aparente. Na véspera estava me sentindo um pouco entediado, é certo, mas não era tédio de falta do que fazer, eu tinha muita coisa a fazer, era tédio de viver.
O mais estranho nessa época, era me relacionar com as pessoas. Era estranho saber que todos ao seu redor existem e você não ter certeza da sua própria existência, por isso não conversei muito nessa época, fiquei o máximo de tempo no meu quarto fazendo absolutamente nada, não tinha vontade de fazer nada. Tentei ler alguma coisa, tentei assistir algum filme, mas nada.
Não sei explicar o porquê disso tudo, talvez um psicólogo consiga, apenas estou relatando o que vivi. A Náusea acabou no segundo dia em que voltei ao trabalho. No primeiro ela ainda persistia, mas até o final do expediente ela já estava mais branda. No outro dia já tinha acordado feliz, consciente de mim e da minha importância social, mesmo que mínima.

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